quinta-feira, 26 de maio de 2011

É só usar a cabeça! Assim nada Lucas Ito.

Quem é considerado “tetra”? Segundo o dicionário Michaelis, quem tem paralisia em todos os quatro membros.

Por causa da deficiência nos braços e pernas, o atleta de natação Lucas Ito já chama atenção quando o colocam na água.Mas surpreende mesmo quando nada facilmente e com agilidade balançando a cabeça, o tronco e um pouco das pernas. Ele nasceu com uma má-formação de nome complicado: Artogripose Múltipla. Depois de oito cirurgias, voltou a ter mais mobilidade e passou a andar com ajuda de aparelhos. Acabou de se formar em jornalismo e aos vinte um anos quer se dedicar às duas profissões.


Como foi a 1ª vem que entrou em uma piscina? Ficou com medo de se afogar?

A primeira vez que entrei na piscina foi na hidroterapia, não fiquei com medo porque estava sempre com fisioterapeutas. Foi na hidroterapia que aprendi a nadar.



Quais os movimentos você faz para nadar? Usa o tronco também?

Para nadar faço o movimento de ondulação de costas, uso muito o tronco e um pouco as pernas.


Já tentou outras modalidades?

Pratiquei o Polybat (tipo tênis de mesa com laterais) durante alguns anos, mas por ainda não ser um esporte olímpico, não era valorizado pelo meu clube na época, o C.P.S.P. (Clube dos Paraplégicos de São Paulo), então me dediquei apenas à natação.

Quem te ajuda nos campeonatos e no dia a dia (ou você faz as coisas só?)? Qual sua motivação para entrar naquela água fria? Aliás, passa muito frio?

Minha mãe sempre me ajuda em treinos e competições. Onde treino a água é aquecida, mas em muitas competições temos de enfrentar águas geladas, o que é muito ruim, pois os tempos nunca saem tão bons. Porém, nunca deixei de competir por a água estar fria, porque sei de todo o esforço que tive nos treinos para poder estar alí.


Quais são suas chances em competições de alto rendimento?

Bom, no Brasil participo de todas as competições de alto rendimento, inclusive sou o 1º do ranking na classe S1 (a categoria para atletas com mais limitação na natação paraolímpica) há alguns anos. Já nas competições internacionais, só depende da vontade do CPB em me convocar. Em 2006 fui para o mundial na África do Sul, em 2007 fui convocado para o parapan, mas não competi porque os outros países não mandaram seus atletas da classe S1. Já em Pequim 2008, e no mundial da Holanda no ano passado, não fui convocado mesmo tendo condições para tal.


 Você anda com ajuda de aparelhos. Você se considera um “tetra” do Paraguai?

Na verdade nunca me considerei um tetra, comecei a ser tratado assim no meio do esporte paraolímpico, talvez pela maneira de nadar... rsrs.



Quais são seus planos pro futuro no esporte e na vida?

No esporte, mesmo achando improvável, estou em busca de uma vaga no parapan do México. Na vida, pretendo me dedicar ao jornalismo, o qual me formei ano passado.


Veja uma reportagem com Lucas Ito:

Carla Maia (C5-C6)


quarta-feira, 25 de maio de 2011

Procuramos independência

Declaro independência ou morte! Desde pequenininhos escutamos isso cujo autor da antológica frase foi D. Pedro I, quando, de acordo com o folclore popular, ele a gritou na hora da proclamação da independência do Brasil de Portugal, mas meu foco hoje não é a história. Todos os cadeirantes, deficientes, portadores de necessidades especiais ou aleijados (minha nomenclatura favorita haha) mais antigos sempre falam para os mais novos nessa “carreira”, “caminhada” ou “prova” que sejam o mais independente possível.
Na minha experiência em particular, sempre me questionei, pois como um deficiente dito completamente independente poderia dizer isso para mim, sendo as situações diferentes, os problemas diferentes (familiares, pessoais ou financeiros por exemplo) e o pior as lesões diferentes, pois mesmo que as lesões sejam ditas iguais nunca a serão. Dois pacientes de nível C7 tem sensibilidades diferentes, mecânica diferentes (movimentos) e vontades diferentes.
Eu parava para pensar e não via má fé nesses conselhos, e sim falta de compreensão de ambas as partes. Pois o verdadeiro significado da palavra independente nenhum Aurélio ou qualquer outro dicionário trará para nós tetras ou deficientes. O sentindo é muito mais forte e afeta a alma de cada um. A vontade de superar expectativas alheias e as próprias é maior que tudo, se deixarem faremos até o que a medicina nega, não tenham duvidas.
O uso errado desse significado é muito utilizado por novatos e veteranos. O sentido verdadeiro de independência deve ser não o de fazer tudo sozinho e sim fazer tudo que VOCÊ pode sozinho. Não utilizar do perigo, do extremo cansaço ou do orgulho para fazer algo sozinho. Muitos dos quais os outros chamam de independentes tem o senso do que fazer e do que pedir. Por que subir rampas íngremes sozinhos para cansar-se ou virar um carpado twist para trás em vez de pedir ajuda para uma pessoa na rua? Por que levar 20 minutos para guardar a cadeira no carro se um dito “normal” que você pedir guardará em 2 minutos?
Ser independente é ser inteligente e não apenas força e vontade. Por várias vezes que almoço na rua peço a garçonetes para abrir minha lata de refrigerante e cortar a carne por exemplo, eu quebrarei meu dente e comerei feito um Neandertal? Se tenho boca e inteligência vou a Roma!
Gui(C7)
“Fortes são aqueles que transformam em luz o que é escuridão”.           

segunda-feira, 23 de maio de 2011

POSTAGEM INAUGURAL

Caros amigos,
Quando o Guilherme me convidou para ser um dos parceiros na construção deste blog senti um misto de alegria e medo. Afinal é um reconhecimento da pequena ajuda que de alguma forma dei a ele, sejam pelos exemplos ou pelos conselhos, já que a lesão dele se deu há menos tempo que a minha. O medo vem da consciência das responsabilidades em tornar menos penosas a vida dos tetras, principalmente daqueles que se lesionaram há pouco tempo.
Minha tarefa neste blog será a de falar das adaptações que facilitam nossa vida no dia-a-dia, mas como postagem inicial gostaria de tratar de uma questão muito delicada e muito importante para quem acabou de se lesionar e também para sua família: como ajudar.
Nesse primeiro momento os que nos amam, procuram de toda forma “minimizar” o nosso sofrimento e acabam por querer nos fazer tudo. É claro que os tetras com lesões mais altas (C1, C2, C3 e C4) possuem limitações físicas muito maiores, mas aqueles que conservaram algum movimento (C5, C6, C7 e C8) são capazes de desenvolver habilidades que às vezes nos parecem impossíveis. E nesse caso a família tem um importante papel em potencializar e incentivar o nosso desenvolvimento.
Gostaria de citar o caso de um grande amigo e grande exemplo para quem o conhece: Iranildo Espíndola é um tetra de nível motor C8, isto é, tem os braços funcionais, mas uma grande limitação das mãos e tem uma vida totalmente independente, inclusive já morou sozinho. Ele dirige, trabalha (é atleta de profissão), viaja sozinho, cozinha, toma banho até de banheira e há pouco tempo se casou. O que o auxiliou muito na sua independência foi justamente sua situação familiar. A família morava em outro estado e ele dividia o apartamento com um amigo que trabalhava e nas horas de folga lhe dava algum auxílio. Dentro das suas necessidades ele se viu obrigado a se virar e me disse que certa vez quebrou alguns dentes abrindo a porta com a boca.
Por experiência sei que cada caso é um caso e que pessoas com níveis motores iguais não necessariamente desenvolvem habilidades iguais, mas são os casos de sucesso como do Iranildo que nos motivam a querer ir cada vez mais longe.
E vai o conselho para quem se torna cuidador de um tetra. Deixe ele se virar. Nada de empurrar a cadeira. Procure ajudá-lo o mínimo possível. O tetra vai ficar brabo, os familiares vão dizer que você o está maltratando, mas quando se passar alguns anos todos vão reconhecer e agradecer a sua iniciativa. Palavra de quem já passou por isso, mas a minha história conto depois.
“Força sempre”.
Aloisio Junior (Tetra C6/C7)